A difícil situação de Ricardo

“ Não julgueis, pois, para nos seres julgados, porque com o Juízo que julgares aos outros, sereis julgados” ( Jesus- Matheus, VII- I e II).

                Ricardo, sua esposa e quatro filhos pequenos seguiam perla vida numa situação econômica equilibrada.

                Empregado de um indústria de móveis, ganhava para a sobrevivência de sua família, lutando obviamente com alguma dificuldade, mas mantendo em dia o aluguel, as contas de luz, agua, alimentação, a escola para as crianças e outras obrigações inerentes a qualquer agrupamento familiar.

                Tudo caminhava bem, até que a empresa que o mantinha como empregado, por problemas financeiros, encerrou suas atividades. Deixou de pagar-lhe o salário do mês trabalhado e como era final de ano, não pagou também o décimo terceiro salário. Não estando Ricardo devidamente registrado, conforme preceitua a lei, ficou sem qualquer possibilidade de recebimento de direitos trabalhistas.

                As contas começaram a vencer: aluguel, supermercado, agua, luz, escola, prestações outras, etc.

                Ricardo, desempregado, sai a cata de nova ocupação e a resposta que obtinha era sempre a mesma:” estamos dispensando também”, “ faça uma ficha de solicitação de emprego”, “preencha o cadastro”, “ deixe seu curriculum”. Emprego mesmo, nada.

                Conseguia, vez por outra, apenas algum trabalho como diarista, na lavoura ou na construção civil.

                O tempo foi passando e a solução imediata foi vender a televisão, o rádio, os móveis e por ultimo a geladeira para pagar  despesas de farmácia com as crianças.

                Com a família deixou a casa, por não mais poder arcar com o aluguel e se abrigou num “barraco” numa das favelas da cidade.

                Carência total, fome, crianças doentes, aflição, desespero… Vida desumana.

                               *************

                Aí esta, amigo, uma situação verídica, sem nenhuma imaginação literária, a realidade pura, terrível, de um drama social.

                Ricardo, um chefe de família honesto, trabalhador, jogado pela sociedade na vala fria e desalentadora do desemprego, com remotas possibilidade de reequilibrar-se novamente.

                Por quanto tempo esse homem que sempre cumpriu com suas obrigações, suportará viver mergulhado em tamanha aflição?

                Ricardo, pela sua formação, talvez consiga sobrevier sem se chafurdar no mundo do crime, mas seus filhos, como reagirão, vivendo agora em ambiente propício à marginalidade, onde os exemplos de indignidade, violência e viciações, vicejam em abundância?

                Amanhã, estará essa sociedade que jogou essas crianças pelos desfiladeiros da dor, pedindo-lhes pena de morte ou punições severas? Essa mesma sociedade, que pelas contingências, as fez embrenharam-se pelo mundo da criminalidade…

                E para quem causou tanto sofrimento, qual seria a pena?

                É tempo de reflexão, pois atrás de cada drama social existe sempre um emaranhado de situações que precisam de solução e não de violência. Muito provavelmente nestes casos, existe também nossa parcela de culpa. Reflitamos.

                Ao invés de pedir a pena de morte a alguém ou nos lançarmos a julgamentos precipitados, de dramas que não conhecemos, cuidemos de observar o que podemos fazer para melhorar a sociedade em que vivemos, oferecendo novas oportunidade aos que seguem no desequilíbrio.

                Meditemos.

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