A bela professora

As escolas rurais tiveram início nos anos 1920 e término no final dos anos 1970. As mestras eram designadas para as escolas isoladas. Se fosse próximo de sua casa, elas iam dar aulas voltavam pra cidade de jardineira ou com o caminhão do leite. Tinha que ter muita paciência, o motorista ia parando de porteira em porteira, pegando os latões cheios e deixando os vazios para o outro dia. Na época das chuvas, o sofrimento aumentava. 

Acontecia de o grupo escolar ser distante, aí, então, elas tinham que posar na residência de alguém da fazenda, visitavam suas casas nos finais de semana.

Quando a professorinha chegava à fazenda, era um grande acontecimento. Não demorava para que se acostumasse com aquela vida pacata das propriedades cafeeiras e passava a fazer parte da vida dos meeiros. À noite, depois do jantar, se reunia com a caboclada em torno de uma fogueira ouvindo atentamente histórias e causos. A essa altura, tinha balançado o coração de algum matuto e acontecia de ela também se apaixonar. Alguns namoros se transformavam em casamento.

Quantos homens e mulheres de sucesso sentaram num banco de escola isolada, perdida nos confins do sertão! Conheço alguns e todos têm o maior orgulho de um dia ter aprendido a ler a cartilha Caminho Suave. B com a, Ba.

A história que passo a narrar me foi contada pelo meu amigo Renato Vicente e aconteceu no bairro rural da Curva Torta, região de Penápolis, nos longínquos anos 1950. O bairro recebeu para o ano letivo a professorinha mais linda que por lá tinha passado. Loira, olhos azuis e a cabeleira longa davam-lhe ar de nobreza. Iria se hospedar na casa do administrador. Ele era viúvo e despertou paixão secreta pela mocinha. E dois filhos gêmeos que moravam na capital e só vinham pra casa nas férias. 

Todo dia 11 de julho, faziam questão de estarem presentes na festa de São Bento, padroeiro do arraial, onde à noite tinha missa, leilão e o baile tão esperado por todos. Nesse dia, conheceram a doce e terna Rosa Maria e se encantaram, igual a todos que a viam. 

À noite, o pai e os gêmeos foram cicerones da moça. No baile, um dos rapazes queria dançar com ela o tempo, despertando ciúmes no pai e do outro irmão. O velho chamou os três a um canto. Ato contínuo, iniciaram uma discussão. No escuro, alguém sacou uma arma. O som da sanfona e da algazarra da festa abafou o estampido de um tiro disparado. O orvalho da noite sobre a relva orvalhada foi manchado de vermelho. No chão, jazia o corpo da bela professora.

Segundo meu amigo Renato, no arraial da Curva Torta, nunca mais teve festa de São Bento.

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