E era grande a sucuri
Foi o Zé da Sirva entrar no Bar do Arlindão e dar a informação pra todo mundo ficar de orelha em pé. Aconteceu o seguinte: Estavam todos ali tomando umas, jogando baralho, e o Zé da Sirva apareceu com esta:
“Gente, cuidado quando forem no Corgo do Engano, lá tem uma sucuri que é pra mais de cinco metros”.
Olhares assustados, sussurros e atenção nos detalhes.
“O Batista ouviu uns gritos de porco e desceu no rumo da gritaria pra ver o que era. Ainda bem que chegou a tempo. Quando ele tava na beira do corgo viu lá a bitela já quase esmagando uma porca minha. Ele rancou o berro da cinta de mandou bala. A bicha largou a porca e se escafedeu pra dentro d´água. Ela tá por ali e ainda com fome.”
“Mas como você sabe que tinha cinco metros?” Era o Pitoco interessado no assunto, mas meio desconfiado.
“É mais ou menos, né Pitoco. Só sei que a bicha é grande. Eu não passo mais na pinguela. Agora só trevesso o corgo pela ponte e de butuca na bicha”.
Miliquenhento, mostrando sabedoria, explicou:
“Sucuri não ataca gente, só bicho”.
O Arlindão, que passava o seu pano ensebado no balcão, mais por mania do que com intensão de tirar alguma sujeita, contestou:
“Agora você se danou Miliquinhento. Não viu a reportagem da sucuri que quase matou o menino em Cosmorama? Saiu na televisão. Se não é o avô, a bicha tinha engolido o garoto”.
Miliquinhento ainda consertou:
“Criança até que pode, mas gente adulta não pega não, ainda mais um homão que nem o Zé da Sirva”.
Diante do silêncio momentâneo, Zé da Sirva completou:
“Se pega ou se não pega eu não sei. Só sei que enquanto ela tiver lá eu não passo na pinguela”.
O assunto da sucuri esteve presente durante uns quinze dias no Bar do Arlindão e quando já começava a minguar, chega o Zé Calabrês com um sorriso de dar suspeita. Ali tinha coisa. E não é que tinha mesmo?
Depois de pedir uma e tomar numa única talagada, o baixinho raquítico, olha pra clientela do Arlindão e acalma a todos:
“O perigo da sucuri já passou”.
Geromé, que não era de falar muito, mas que tinha fama de valente, perguntou:
“Você matou a bicha?”
Zé Calabrês estufou o peito e respondeu:
“Matar eu não matei porque não sou de matar criação, mas dei um jeito nela”.
Todo mundo queria saber o que tinha ocorrido e o Zé Calabrês contou com detalhes:
“Fui no Corgo do Engano dar uma pescadinha, pegar uns piaus, e tô lá, sentado no barranco. Quando vejo, olha lá a danada vindo em minha direção. Fiquei quieto, disfarçado, como se não tivesse vendo. Ele veio vindo, veio vindo e quando deu o bote eu grudei no pescoço da bicha, dei um galeio e ela formou um anel com aquele baita corpo de mais ou menos uns cinco metros. Então eu enfiei a cabeça dela naquele anel que fez, peguei do outro lado e dei um nó na bicha e sortei ela nágua. Quanto mais ela fazia força pra desfazer o nó, mas ele apertava. Morrer eu acho que ela não morreu, mas daquele jeito que tá, não vai mais atiçar ninguém”.
Ficou aquele clima de desconfiança e antes que alguém falasse alguma coisa, o Zé Calabrês lamentou:
“Pena que eu tava sozinho, mas eu queria arguém junto de mim pra testemunhar. Mas, o importante é que agora todo mundo pode ir no corgo e o Zé da Sirva já pode trevessá a pinguela sem medo”.