“Zóiu azu”

Há algum tempo desejava escrever sobre um amigo que muito admiro. Ele participou de um projeto muito importante que mudaria os rumos do Brasil. Mas, não queria que ele soubesse da minha intenção em homenageá-lo. Pedi ao nosso amigo em comum, José Ronaldo Stelutto, o “Tiriba”, médico dos bons, para que lhe fizesse algumas perguntas, sem que ele percebesse.

José Guilherme Couto nasceu, em Catanduva numa época em que os bairros de periferia eram descalços. Os pais, descendentes de italianos. Portanto, o menino nasceu de pele clara, olhos azuis. No primeiro dia na escola do bairro, destoava da maioria dos meninos e das meninas na cor da pele. Todos morenos ou pretos. Somente ele com a cor rosada. Nesse dia, ganhou de um coleguinha ao lado o carinhoso apelido que o acompanha até os dias de hoje. O menino se levantou e, em tom de admiração, falou para a mestra: “Professora, ele tem u zóui azú”.

Por essa mesma época, o pai sofreu acidente que o deixou acamado por quase cinco anos. Para ajudar a família, Zóiu azú pediu a um vizinho que lhe fizesse uma caixa de engraxate. Saía da escola, tirava o uniforme e, sem demora, colocava a caixa nos ombros e partia em direção à praça da República, no centro da cidade, atrás de conseguir alguns trocados. Depois de horas perambulando em busca de clientes, a noite chegava. Ia para casa levando no bolso algum dinheirinho e, na alma, a tristeza de saber do pai naquele estado.

 Aos poucos o pai foi melhorando, até que se sentiu apto para a lida. A família se mudou para a colônia de uma usina em Severínia, onde o pai foi contratado como gerente. E ele, como auxiliar de escritório. À noite, ia estudar em Cajobi.

 Nos anos 1970, a usina recebeu a visita de dois engenheiros. Cícero Junqueira Franco e Lamartine Navarro tinham um projeto ambicioso: estavam desenvolvendo o Pró-Álcool. Viram que Guilherme era muito inteligente e o convidaram a participar. Por ser ainda menor de idade, o pai teve que o emancipar. Passou a viajar com os engenheiros por todo o Brasil, visitando usinas e convencendo os proprietários da importância do álcool como combustível.

    Numa das vindas para casa, sábado à noite, foi com um amigo num baile em Cajobi. Pediu se podia dar uma volta no seu Corcel. A intenção era se exibir para mocinhas na praça. Ao dar cavalo de pau, o freio de mão não suportou a manobra, o veículo, desgovernado, subiu na calçada, quase atropelou passantes e, para piorar a situação, entrou na prefeitura, indo parar no gabinete do prefeito. Imaginem a lambança. Com medo de ser preso, saiu em desabalada carreira. Naquela noite, correu mais de 15 quilômetros, até chegar à casa.  José Guilherme Couto é empresário e muito bem relacionado na sociedade rio-pretense. Meu amigo, muitíssimo obrigado pela sua generosidade com todos

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