“Holocausto” palestino
No último domingo, em entrevista coletiva que encerrou sua viagem à Etiópia, o Presidente Lula afirmou que: “[…] qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”.
E continua, “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus”.
Externamente, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Nettanyahu, utilizou esta fala para tornar Lula persona non grata (termo em latim utilizada pela fraseologia diplomática para dizer que uma pessoa não é bem vinda em seu país) em território israelense; internamente, a Deputada da oposição Carla Zambelli está colhendo assinaturas para um processo de impeachment contra o Presidente.
O termo “genocida” se popularizou no Brasil pelas acusações sofridas pelo ex-Presidente Bolsonaro quando não empenhou os melhores esforços estatais para que menos gente morresse. Estima-se que, dos 700 mil brasileiros mortos, nosso país poderia ter salvo 400 mil pessoas se a vacina tivesse sido dada a tempo, se as máscaras tivessem sido distribuídas e os lockdowns fossem tempestivos. O discurso da economia primeiro, ceifou milhares de vidas.
A palavra volta à tona novamente nesta semana com a fala do Presidente Lula.
Historicamente, o termo “genocídio” surgiu após a II Guerra Mundial, que vem do grego “genos” (raça), mais o sufixo “cidio” (matar).
Ou seja, este crime ocorre quando há a intenção de destruir sistematicamente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, pelo motivo de pertencerem a esses grupos. E é neste sentido que há uma lei penal no Brasil, já antiga, a Lei 2.889 datada de 1956 que define assim o crime de genocídio.
Já o holocausto é um tipo específico de genocídio, que tem início e fim na história do mundo. Significa o genocídio dos judeus promovidos pela Alemanha nazista entre 1933 e 1945. Estima-se que seis milhões de judeus foram mortos neste período pelas tropas de Himmler, chefe da SS nazista.
A Alemanha de Hitler promoveu genocídio em seu território apenas do povo judaico? Não, ela promoveu genocídio de outros povos também, como dos ciganos e dos negros. Era uma ideologia de limpeza étnica do espaço vital para o povo ariano, e por isso deveriam matar judeus, comunistas, negros, homossexuais e outros grupos minorizados.
Qual é um dos problemas das ações de Israel nesta guerra? Que à desculpa de caçar terroristas do Hamas, estão realizando mais uma expansão em territórios palestinos, aumentando seu país como veem fazendo desde 1948. O chanceler Israel Kats propôs até que os palestinos fossem mandados para uma ilha flutuante. E nesta empreitada de 07 de outubro de 2023 até o momento já matou cerca de 30 mil pessoas e alguns terroristas.
Analogamente é como se para resolver o problema das milícias no Rio de Janeiro, o Estado brasileiro cercasse uma comunidade (“favela”) e bombardeasse tudo que ali está indistintamente, casas, famílias, hospitais, etc.
De 2001 para cá, após o ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos, o terrorista se tornou um inimigo etéreo, que pode estar em qualquer lugar e se explodir a qualquer momento, o que justifica uma ação contundente ou até mesmo uma antecipação da guerra – que já inicia perdida – como aconteceu no Afeganistão.
Tanto a imprensa brasileira quanto Israel estão se valendo da tentativa de igualar o Hamas ao povo palestino, como se fossem uma coisa só. No Brasil ainda é pior, porque nosso país foi um dos primeiros a reconhecer o Estado palestino como independente em 2010, sob o governo da Presidenta Dilma.
Decorre-se daí uma falta de lógica tremenda, que se Dilma reconheceu o Estado da Palestina, então o Partido dos Trabalhadores é pró-palestinos, logo, pró-Hamas, logo a esquerda brasileira é contra os judeus e pró-terroristas!
Temos que ter em mente que não é possível comparar as obrigações impostas a um Estado, como de Israel, com as impostas a um grupo terrorista, que não tem obrigações, que só existem para causar terror, como a própria raiz da palavra indica e estão errados em sua origem e nem deveria ser discussão se alguém concorda com isso. O que está em questão é que o povo palestino não pode responder pelos criminosos que estão imiscuídos neles.
Assim, o que está ocorrendo ao longo da história recente entre palestinos e judeus é um genocídio do povo palestino, porém ainda não comparável ao holocausto das décadas de 30 e 40 e esperemos que haja um cessar-fogo antes de milhões de mortes e antes de que Nettanyahu não leve seu povo a ser conhecido como o oprimido que virou opressor.