Danny Ribeiro, uma mulher trans em Votuporanga

Basta alguns minutos de conversa para se perceber a força desta mulher chamada Danny Ribeiro. Com ela não há meias palavras e fala de sua vida com a toda a naturalidade. A impressão que se dá é que se trata de uma pessoa que não se importa com limites. Bem resolvida, profissional bem sucedida no ramo de beleza e satisfeita com o seu relacionamento que dura dez anos.

Danny diz que se transicionou tardiamente com 22 anos, pois segundo ela “a maioria começa aos 13, 14 anos, com vestimentas e depois começa com a terapia hormonal. Eu tive esse tempo, tardio, mas deu certo. Foi também em função do meu trabalho.”

Decidir transicionar não é tão fácil, pois, como diz Danny “você não decide só por você. Você decide pela sua família, pelos seus amigos. Você vai ser uma pessoa selecionada pelo resto da vida. É uma decisão em conjunto, mas que só você pode tomar. Ou você tem que ter uma cabeça muito boa, muito segura de si ou tem que ser muito louca. É uma loucura total, principalmente no começo. Desde criança as pessoas já te apontam, mas aí a coisa fica mais marginalizada. Você tem que tentar entender onde eles estão querendo chegar, não você. Porque você já chegou”.

Ter esta nova figura não é uma surpresa, pois as coisas acontecem com o tempo, segundo ela:

“Era o que você queria, o que o seu corpo queria, a sua mente precisava estar aí para você precisar fazer, pra poder acontecer. Quando a Danny chegou pra mim não era uma surpresa, mas para as outras pessoas, sim. Então, driblar esta situação, fazer com que as pessoas te aceitem é pior do que você colocar um salto agulha 15”.

A mudança não é igual para todos, dependendo muito de como é a família. Danny explica:

“Vai depender do que você tem em casa, não só do que você idealiza. A pessoa trans não tem essa transição mental psicológica, ela já nasce mulher. Então ela se incomoda com esse negócio de ficar vestindo cueca, bermuda, camiseta, tênis. Essa é a diferença. Por isso não há esse choque de metamorfose quando você se transiciona. Quando você coloca algo feminino é algo super natural. Pra mim foi super natural porque não via diferença. A única coisa que senti é que a partir daí eu estava igual. Estou como eu gostaria de estar. Existem pais de família que descobrem mais tarde que são trans ou homossexual. Pra eles essa confusão deve ser um pouco maior”.

Falando da sua vida Danny diz que “eu nasci assim. Eu brigava por causa da Barbie. Eu ganhava carrinho, mas queria uma Barbie. Era uma briga, principalmente no Natal onde a árvore estava cheia de bonecas e cheia de carrinhos. Eu nunca ganhava uma boneca. Hoje eu sou loira porque eu quero ser a Barbie”.

O preconceito é um problema sério, mas Danny resolveu o seu problema:

“Eu não sofro porque eu não fico mais me policiando se tem pessoas olhando e o que estão comentando. Já sofri preconceito. Eu cheguei em um estágio que já sou naturalizada. Consigo entrar e sair de qualquer ambiente. Nunca tive problema com banheiro, nunca tive problema com o meu nome. Muitas vezes eu chego em um lugar e encontro pessoas que nunca vi e elas sabem o meu nome, me tratam no feminino. Esse tipo de problema eu não tenho, mas já passei. Quando acontece é muito constrangedor”.

No dia 29 é o Dia da Diversidade Trans, com uma marcha que acontecerá em Brasília e Danny fala sobre a importância de se posicionar e conquistar espaços:

“Eu não aceito NÃO como resposta. Já aceitei demais. A marcha que acontecerá em Brasília serve pra gente reivindicar os nossos direitos perante a sociedade. Não porque agora temos um presidente que é mais humanitário que nós devemos deixar de mostrar, não só a ele, mas a toda sociedade que merecemos respeito, merecemos dignidade. Nós também temos família e queremos colocar comida na mesa. Precisamos trabalhar, precisamos estudar, precisamos de cotas nas universidades”

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