“Abêia oropa”

No feriado que passou e para não perder o hábito, logo pela manhã, fui pedalar passando pela estrada da Matinha em direção ao bar do Bida, em Mirassol. Depois de dias abrasadores, choveu na tarde anterior e o dia estava lindo. Algumas poças na estrada eram sinal de que à noite também havia chovido. Temperatura agradável como há muito não se via. Pássaros cantavam agradecidos. Num mourão abandonado ao longo do caminho, uma seriema entoava seu canto esganiçado, chamando para junto de si a outra ave que respondia ao canto do outro lado do córrego.

 Como eu estava sozinho, e pela beleza da paisagem, pedalava devagar. Atrás de mim, ouvi ao longe alguns ciclistas que cada vez estavam mais perto. Passaram por mim. Homens e mulheres pedalavam apressadamente para chegarem ao seu destino.

 Quando estavam a mais ou menos uns cem metros de distância, pararam e começaram a se debater. As meninas entraram em pânico. Ao me aproximar, passei a ouvir um som que há muito não ouvia, eram milhares de asinhas batendo ao mesmo tempo. Gritei para que agachassem e ficassem imóveis. Era um enxame de abelhas Europa, de passagem em direção à mata do Ipa. Quando a última passou, se levantaram ainda aturdidos. Felizmente ninguém foi picado.

 Se despediram. Eu continuei sozinho por aquela estrada que me é tão familiar. O encontro com as abelhas me fez voltar no tempo em que eu morava na roça. Era rara a casa que não tinha pelo menos uma caixa de madeira sobre um girau com um “meleiro”.

 O caboclo mantinha sempre uma caixa vazia. Era chamada de espera. Quando passava um enxame pelo local, mulheres, crianças e homens, pegavam folhas de erva cidreira, amassavam e esfregavam no interior da caixa vazia. Enquanto outros batiam em latas ou qualquer material que fizesse som, para que assentassem na caixa preparada. Era um acontecimento. A estratégia muitas vezes não dava certo. Elas não davam a mínima e continuavam em busca de nova morada.

 Tinha uma época em que a moradia ficava pequena para tantas abelhas. Então novo enxame era formado. À frente, a abelha rainha comandava seu batalhão, e partiam em retirada. Nesse momento, os bem-te-vis faziam a festa. Eles adoravam comê-las em pleno voo. Tanto é que todos mantinham sempre à mão um estilingue para espantá-los. O bando era capaz de devorar centenas delas.

 Só quem viu de perto uma ou mais caixas com abelhas para saber da emoção que é. Os favos cheinhos do doce nectar davam água na boca. Minha avó tinha muito jeito no trato com as bichinhas, se aproximava com uma vasilha e uma faca, conversava com elas. Lentamente cortava um ou dois favos, para nosso deleite.

  Termino minhas pedaladas com a alma leve e feliz por ter presenciado, depois de muitos anos, um enxame de abelha Europa.

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